Referência negra
Causa-me estranheza a falta de referencia do povo negro na cidade de Guarulhos, eu acredito que pensem não ser necessário nenhum tipo de lembrança da nefasta época em que nossos antepassados foram seqüestrados e trazidos aqui para serem escravizados pelos senhores fazendeiros e sociedade urbana, ainda hoje fazemos tudo que podemos para não deixar cair no esquecimento o holocausto dos alemães sobre o povo judeu e isso aconteceu entre 1939 e 1945, ou seja, há exatos 64 anos atrás, pouco tempo, ainda assim alguns caras de pau afirmam que não houve o quase extermínio de um povo através da supressão e da eugenia, da mesma forma que também há caras de pau ou racista mesmo que insistem em afirmar que não há discriminação racial no Brasil, mas voltemos à questão da referencia negra na cidade.
Não só a referencia negra, mas esta cidade é carente de monumentos que lembrem um povo ou homenageiem pessoas que foram importantes neste quase quinhentos anos de existência desta cidade. Com exceção da comunidade japonesa, pois fazendo um paralelo em Guarulhos entre os cem anos da imigração japonesa “no Brasil” e toda a trajetória do povo negro aqui, notamos o seguinte: na rodovia Hélio Shimidt bem próximo ao aeroporto, há um lindo e justo monumento lembrando os cem anos da presença nipônica em solo brasileiro, como também no Bela vista bairro próximo ao Taboão, há uma praça com nome e um outro monumento fazendo a mesma homenagem, já na praça Getúlio Vargas a comunidade japonesa fez um monumento para lembrar o quarto centenário desta cidade, quero deixar claro que não tenho absolutamente nada contra a presença dos nossos irmãos japoneses ou qualquer outro povo irmão em solo brasileiro, na praça Quarto Centenário colocaram uma estátua do anjo Gabriel com um globo na mão, confesso que não sei qual a relação entre o anjo e o globo na mão com esta cidade ainda mais quando ela está de costas para a entrada da cidade.
Voltando a Praça Getulio Vargas, ali encontraremos a única referencia que faz jus a todos os negros, ainda que muito singela, na década de 90 foi posto a cabeça uma mãe preta nesta praça, é tão singela que quase passa despercebido da população, até entre algumas pessoas que militam movimento negro. Tentaram fazer uma homenagem aos negros no lugar que possivelmente tem mais simbolismo a todos nós, a rua D. Pedro I, onde era a antiga igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens pretos e também onde eram enterrados os escravos, pois não podiam ser postos nos cemitérios dos “comuns”, mas a emenda ficou pior que o soneto, porque aquela mancha preta que colocaram no chão é simplesmente deplorável, depois de mais de 300 anos de escravidão, não precisamos mais ficar olhando para o chão, ainda mais se é para vermos monumentos que dizem lembrar nossa passagem e permanência em Guarulhos.
O maior monumento que um povo pode deixar aos seus descendentes é a certeza de sua presença através da resistência no passado, mas nós fizemos mais que isso, além da luta e resistência, deixamos sangue, suor, ossos e principalmente nossas vidas para fertilizar este solo que pisamos e estas marcas encontramos no Sítio da Candinha, na D. Pedro I, nas Lavras, no Bonsucesso e claramente na presença de mais de 50% da população brasileira de homens e mulheres negros e negras que tão bravamente resistem contra todo tipo de preconceito e que vivem e sobrevivem exigindo a justa igualdade, ao deixar as suas sementes para a perpetuação da historia deste lindo povo.
José Norman
Coordenador da Unegro-Guarulhos
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
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